Tamanho da frase

Um parágrafo feito só com frases de tamanho igual pode ficar um tormento para o leitor, sejam as frases somente curtas, sejam as frases somente longas. A variação pode dar um colorido ao texto, pode transmitir melhor emoções, dar enfases, guiar o leitor pelo caminho escolhido pelo autor. Mas como deve ser essa variação? Não há regra. Algumas dicas podem ajudar quem escreve a perceber os efeitos dessa variação.

Frase curta: dar enfase; ou concluir, iniciar,  ou entremear frases grandes.
Frases longas: grandes sequências lógicas ou descritivas.

Frases curtas e longas:
Era uma manhã ensolarada. Tia Marta havia feito um grande bolo de chocolate, daqueles com bastante cobertura, chocolate granulado, além  da casquinha crocante por fora. João achou tudo aquilo bom.

Somente frases curtas:
Carlos foi à praia. O dia estava bonito. Mas o carro enguiçou. Não havia mecânico. A noite se aproximava. As nuvens ficavam carregadas. Começou a chover. Carlos decidiu esperar. Horas se passaram. Outro carro apareceu. E também enguiçou. O azar não podia ser maior.

Somente frases longas:
A última vaca a passar pela porteira cinza tinha uma flor presa ao sino que carregava no pescoço largo. Mas de onde raios vinha aquela flor laranja se não havia flores laranjas nas proximidades da Fazenda Cajueiro Grande? Ninguém tinha notícias de alguma pessoa que tivesse vindo para aquelas bandas naquele domingo ou mesmo no sábado.

Duas frases longas e conclusão em frase curta:
"É certo que não ando muito feliz não, estes últimos tempos com um doença,(...), mas penetrando bastante no fundo dos sentimentos, estou convencido que é por causa do meu engraxate ter me abandonado, que ando agora num ambiente de desolação. A gente fala "meu engraxate", "meu alfaiate", eles são de todos, está claro, porém o "meu" aí no caso - meu Deus, como a gramática não tem delicadeza nenhuma de sensibilidade! - o "meu" quando a gente fala "meu engraxate", não tem nada de possessivos egoístas, funcionam como um "este"; "este engraxate", define coisas e seres, com a superioridade de especificar melhor as relações. Pois meu engraxate me deixou."
(Trecho do texto 'Meu Engraxate' de Mario de Andrade - Diário Nacional - 13/12/1931 / Livro: Táxi e crônicas do Diário Nacional; estabelecimento de texto, introdução e notas de Telê Porto Ancona Lopez - Livraria Duas Cidades.)

Repare que o trecho marcado é extenso. Não é dividido por ponto final. Mas contém uma diversidade grande de pontuação. Nesse trecho há virgulas, travessões, ponto e vírgula. É um mesmo conjunto de ideias transmitidas em uma entrega só. Contudo, parece ser um aparte diante do fluxo formado pela primeira e terceira frase, que é curta e vem para resgatar o problema de maneira prática e rápida: "Pois meu engraxate me deixou".

Atividades com crônicas

  • No Portal do Professor, do MEC, é possível buscar por várias - várias mesmo - atividades com crônicas e outros textos.

  • E na revista Nova Escola também.

Seleção de Crônicas


Modelos de crônicas

Abaixo, um molde para encaixar suas palavras e a sua história.
Texto planejado para uns sete parágrafos e uns 2.700 caracteres.
É só uma sugestão. Se achar melhor, subverta, estique, puxe cada um dos elementos ou adicione outros ingredientes.

### Molde 1: causo polêmico, personagens, cidade, repercussões, opinião ###

Título:_________________________

1º ParágrafoChame atenção, desperte curiosidade com poucas palavras (sugestão entre 5 e 20 palavras).
O povo de Jubiribia do Sul clama por justiça no caso criminoso envolvendo o pardal Afonso e o papagaio Zé Louro.


2º ParágrafoExplique o acontecido. (Sugestão: entre 50 e 100 palavras, ou entre 3 e 6 linhas.)
Aconteceu na última sexta-feira, no bar do Bigode, que fica na esquina da rua Riacho Transcedental com a Rua do Cupinzeiro, e há mais de vinte anos serve o melhor mungunzá da região e talvez o melhor no raio de cem quilômetros. Na tarde do referido dia e no referido local, às 16:35, o pardal Afonso aproveitou-se da distração do papagaio Zé Louro para comer suas sementes de girassol.


3º ParágrafoDescreva um personagem e da relação dele com o entorno. 
(Sugestão: entre 50 e 100 palavras, ou entre 3 e 6 linhas.)
Zé Louro nasceu em Biriramba da Serra, em 29 de março de 1985, sob a influência de mercúrio cruzando feroz a lua cheia. Foi trazido para Jubiriba do Sul por conta de uma apreensão de aves sem licença no cativeiro. Os fiscais pararam para almoçar no bar e por lá ficaram tempo demais. Ao ir embora, esqueceram a caixa de papagaios. Os bichos foram adotados pela cidade e criados com mais cuidados e dengos que a maioria das crianças da cidade. Zé Louro foi o mais votado na eleição para prefeito em 1989. Não pode assumir o cargo pois não sabia ler, nem escrever. Muita gente protestou. A questão é que o Zé tornou-se figura poderosa na cidade. Dizem até que um delegado foi afastado por influência sua.


4º ParágrafoFale de outro personagem e da relação dele com o entorno. 
(Sugestão: entre 50 e 100 palavras, ou entre 3 e 6 linhas.)
Já o pardal Afonso era uma figura onipresente. Havia dúvida se era apenas um Afonso. E havia dúvida se - admitida a hipótese de mais de um Afonso - o acusado ser realmente um dos Afonsos. Havia muitos pardais na cidade desde a introdução da espécie para controle de pragas na lavoura. Dizem que eles mesmos se tornaram uma praga a ponto de banir os tico-ticos da região. Mas apesar da superpopulação de pardias, para os ornitólogos do bar do Bigode, quem roubou o girassol do Zé Louro foi o Afonso.


5º Parágrafo
Um pouco de hipótese, fatos e julgamento. 
(Sugestão entre 50 e 100 palavras, ou entre 3 e 6 linhas.)
Mas apesar da superpopulação de pardais, para os ornitólogos do bar do Bigode, quem roubou o girassol do Zé Louro foi o Afonso.


6º ParágrafoEfeitos. 
(Sugestão entre 50 e 100 palavras, ou entre 3 e 6 linhas.)
Saiu no jornal, pessoas tiraram fotos. Houve gente que tomou partido do pardal. E pessoas que convocaram reunião para falar sobre o assunto.


7º ParágrafoDesfecho, gancho para imaginar, pergunta para o leitor. 
(Sugestão entre 10 e 50 palavras, ou entre 2 e 3 linhas.)

(continua em breve)O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,a-didatica-de-jout-jout-imp-,1642415

Engordando frases

Explique:
  • A tupia - ferramenta elétrica usada em marcenaria indicada para fresar furos oblongos, ranhuras, arestas e chanfros, fresar modelos, desenhos, enfeites, padrões ou letras - foi dada de presente de casamento para Antônio.
Liste:
  • Tunico tinha três irmãs e um cachorro: Joana, Maria, Graça e Carniça.
Faça um diálogo:
          Naquela tarde de sol:
          - Tunico, comi uma goiaba bichada. 
          - Por Jupiter, Maria! Outra goiaba? 

Resuma, recapitule:
  • Os irmãos Tunico, Joana, Maria, Graça e Carniça; bem como o tio Antunes e o pessoal da casa da frente, em fim, todo o quarteirão e mais um pouco foi passar o dia na praia.
Compare:
  • Joana, uma flor de formosura, jogou uma batata frita certeira na cabeça de Graça.
Distribua:
  • Carniça e Maria gostavam muito de caminhar pela praia; ele pela areia, ela pela beira da água.
Adicione:
  • Maria não só tinha mania de lavar bem entre os dedos dos pés, como também de secar. Além do mais, fazia isso mais de uma vez sempre depois dos banhos de mar.
Inclua uma adversidade:
  • Joana sabia boiar, mas não sabia nadar.
Mostre alternativas:
  • Todos gostavam de ir para praia, quer chovesse, quer fizesse sol.
Conclua alguma coisa:
  • Já era seis da tarde e começava a chover, portanto decidiram voltar.
Crie e desenvolva hipóteses:
  • Já era seis da tarde e começava a chover. Se tivessem de carro ou tivesse uma sombrinha, poderiam ter ficado. Imagine se tivessem uma barraca e alguma comidaE se conhecessem alguém que morasse perto. Mas não tinham nada disso, portanto decidiram voltar.
Insira uma citação:
  • Era um belo cachorro, passeava pela areia com graça e elegância, mas como diria minha mãe: "tem rabo torto e nariz de fuinha".

Como escrever uma crônica

Método da frase que cresce, cresce e explode. Mas antes fica colorida.

Sem fazer qualquer plano ou pensar muito, apenas escreva uma frase pequena e simples. É para começar, a primeira que vier na sua cabeça.

Um passo de cada vez, tenha calma, controle-se, vai dar tudo certo, esse é o espírito.

 1) Escreva uma frase simples:
     Comi uma banana.

 2) Aumente ela um pouco:
     Hoje comi uma banana muito boa.
     
 3) E mais um pouco:
     Hoje - belo dia de sol ameno e vento agradável - sentei na varanda e comi uma banana muito boa.

  4) E mais:
      Hoje - belo dia de sol ameno e vento agradável - sentei na varanda e comi uma banana muito boa, talvez a melhor banana que comi em toda a minha vida.

*---- Pausa para refletir, ponderar e decidir ---- *
Você está contente com a frase que criou?
Que tal tentar outras opções? 
Veja aqui algumas ideias para rechear sua frase.
*---- Fim da pausa para refletir, ponderar e decidir ---- *


5) Divida a sua frase em partes e desenvolva cada uma delas:
  • (Hoje - belo dia de sol ameno e vento agradável -)
Ainda havia uma hora de sol bom até a noite começar a cair. Os raios solares, depois de passar pela serra da mantiqueira, lá longe, vinham pousar no meu braço. Nada mau. O vento dava o ar da graça pelos arredores também. Era um dia bonito para um aniversário de quarenta e três anos.
  • (sentei na varanda e)
Havia sentado na cadeira da varanda, que fica entre o xaxim da samambaia e as bicicletas da prole, quando minha filha mais nova, seguida pelo cachorro, apareceu com uma banana na mão. Veio em minha direção e entregou a fruta. Agradeci.
  • (comi uma banana muito boa, talvez a melhor banana que comi em toda a minha vida.)
Mastigando a primeira mordida, fiz umas contas e cheguei ao número de 2.649. Seria o número de bananas que já havia comido na vida. Incluindo aí saladas de fruta, amassadas com aveia, tortas de banana e doce de banana. Aquela era especial.

6) O último parágrafo:
  • (Deixe uma frase final, ou um parágrafo que jogue luz sobre o texto, seja para dar brilho ou para esclarecer.)
Fiquei pensando se o meu pedido - aquele da hora de soprar as velas do aniversário - pudesse ter sido confundido na central universal de pedidos de aniversários. Alguém, no outro canto do mundo, pediu um cantinho sossegado ao lado de um xaxim, um sol de fim de tarde e uma banana boa para comer. (Quem pediria isso de desejo de aniversário?) E quem recebeu o pedido fui eu.

No outro lado do mundo, alguém deve ficar sabendo sem querer da vitória do Botafogo.

*---- Agora juntando as partes ---- *

Titulo: Vitória

Hoje - belo dia de sol ameno e vento agradável - sentei na varanda e comi uma banana muito boa, talvez a melhor banana que comi em toda a minha vida.

Ainda havia uma hora de sol bom até a noite começar a cair. Os raios solares, depois de passar pela serra da mantiqueira, lá longe, vinham pousar no meu braço. Nada mau. O vento dava o ar da graça pelos arredores também. Era um dia bonito para um aniversário de quarenta e três anos.

Havia sentado na cadeira da varanda, que fica entre o xaxim da samambaia e as bicicletas da prole, quando minha filha mais nova, seguida do cachorro, apareceu com uma banana na mão. Veio em minha direção e entregou a fruta. Agradeci.

Mastigando a primeira mordida, fiz umas contas e cheguei ao número de 2.649. Seria o número de bananas que já havia comido na vida. Incluindo aí saladas de fruta, amassadas com aveia, tortas de banana e doce de banana. Aquela era especial.

Fiquei pensando se o meu pedido - aquele da hora de soprar as velas do aniversário - pudesse ter sido confundido na central universal de pedidos de aniversários. Alguém, no outro canto do mundo, pediu um cantinho sossegado ao lado de um xaxim, um sol de fim de tarde e uma banana boa para comer. (Quem pediria isso de desejo de aniversário?) E quem recebeu o pedido fui eu.

No outro lado do mundo, alguém deve ficar sabendo da vitória do Botafogo.


  • (E agora?) ---- *

Já temos uma primeira versão para trabalhar:
Agora é reler e melhorar. Há bastante o que melhorar nesse texto.
Pedir para alguém ler e dar sugestões é uma boa opção.
Ler uns textos de outros cronistas e ter ideias também.

Paulo Mendes Campos

Texto
http://pensador.uol.com.br/cronicas_de_paulo_mendes_campos/

Biografia
http://www.releituras.com/pmcampos_bio.asp
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_mendes_campos

Áudio
http://ims.uol.com.br/Radio/D737
http://ims.uol.com.br/Radio/D936
http://ims.uol.com.br/Radio/D968

Vídeo
Bate-papo ente os jornalistas Humberto Werneck e Wilson Figueiredo por ocasião do lançamento de livros do autor. Instituto Moreira Salles.
https://www.youtube.com/watch?v=97crvNud8Jg

Outros
http://www.blogdacompanhia.com.br/2013/03/o-amor-acaba/

Vanessa Barbara

Texto
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vanessabarbara/
www.blogdacompanhia.com.br/category/colunistas/vanessa-barbara/

Sobre

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vanessa_Barbara

Video

Entrevista. Programa A Páginas Tantas. 
https://www.youtube.com/watch?v=HK5ALANfx4g

Site da autora

www.hortifruti.org

Denise Fraga

Texto
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/denisefraga/

Sobre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Denise_Fraga

Ruy Castro

Texto
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/

Sobre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Castro

Affonso Romano Sant'anna

Textos
http://www.releituras.com/arsant_menu.asp

Sobre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Affonso_Romano_de_Sant'Anna

Vídeos

https://www.youtube.com/watch?v=WLC5-ihzzgc

Site do autor

http://www.affonsoromano.com.br/

Mario Prata

Texto
http://marioprata.net/

Biografia
http://www.releituras.com/marioprata_bio.asp

Vídeo 
Entrevista - Trip FM
https://www.youtube.com/watch?v=d98xoEuyh_s
"A crônica é você transformar o banal em arte; é você partir do nada e transformar aquilo em algo gostoso de ler (...)." - Mario Prata

Site do autor
http://marioprata.net/

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